14 de outubro de 2014

Gregos e troianos

Se é gorda, devia ter mais cuidado com o que come, porque não é de mil folhas que se faz a saúde, e o McDonald's devia ter um sinal a proibir, explicitamente, a sua entrada. Aliás, a gorda devia pagar uma coima por cada centímetro a mais que não deixa as pessoas deslocarem-se à sua volta sem se sentirem claustrofóbicas com tanta falta de espaço. Tão flácida, tanta celulite, devia ter vergonha de ter a gordura a escorrer que nem manteiga por ali abaixo e nem se devia atrever a ver a luz do dia, por amor de Deus. Se é magra, ai meu Deus, que aquelas pernitas parecem estacas, que horror, vê-se o esqueleto. A magra tem a mania das dietas, devia era comer uns hamburguerzinhos para ver se arrebita, se se faz mulher. Nem lhe deve ficar bem a roupa, aquilo é bom é para servir de cabide, as minhas filhas que não sigam o exemplo, que elas querem-se é cheinhas. Olha para aquilo, parece que vai tombar a cada passo que dá. Se é assim-assim, não é assim tão boa, porque a barriga é grande de mais para as pernas e aqueles bracitos são finitos para as mamas que tem, nem sabemos porque é que a ampulheta é a silhueta mais desejada, que aquilo de proporcional não tem nada e os homens nem gostam nada daquilo. Se é alta, é porque come da cabeça dos outros, se é baixa é porque anda rentinha ao chão, se tem o nariz grande é porque o nariz chega primeiro que ela, se tem a boca torta é porque parece que lhe deu uma trombose. Não se pode agradar a gregos e a troianos, resta-nos agradar a nós próprios. E é isso mesmo que temos que fazer. De pessoas como estas está o mundo cheio, eu já as deito pelos olhos. Só sabem dizer mal, nada nunca está, nem estará, bem. E sabem porquê? Porque nunca estão, nem nunca estarão, bem dentro da própria pele. Serão sempre umas infelizes. Mas já a minha avó dizia "antes o mal de inveja, que o bem de piedade".

10 comentários:

ernesto disse...

Ahhhhh, é tão isto! E é exatamente graças a esse tipo de ideias que existem pessoas sem autoestima nenhuma, tipo eu.

Nunca nada está bem, porra -.-

Panda disse...

Eu também, porque sempre me chatearam a perguntar se os meus pais não me davam comida, e às vezes lá tenho os meus dias menos bons em que acho que sou inferior a todas as mulheres por quem passo durante o dia. Mas olha, mandai-os pastar, gente assim merece 0.

Gasper disse...

Como se diz na minha terra: "Boca Santa!". E as mulheres são as piores, criticam todas as características e não olham para si.

A Gata de Saltos Altos disse...

Faço das tuas palavras as minhas. As pessoas não entendem que a perfeição não existe e teimam em apontar o dedo ao mínimo pormenor. Enfim...

http://agatadesaltosaltos.blogspot.pt/

Panda disse...

Gasper, as mulheres são mesquinhas por natureza, não há nada a fazer.

Gata, elas próprias gostam de diminuir os outros para sentirem que estão mais próximas daquilo que consideram ser a perfeição.

mariaéle disse...

Parece que anda para aí uma polémica por causa da Jéssica e sua gordura (deve estar gorda é nas orelhas :P). Acho que deviam todos falar do tempo, isso sim gera consenso, na maior parte das vezes pelo menos :P

Unknown disse...

Fantástico texto !!! E quem o diz é alguém a quem apelidam amiúde de escanzelada k nem um cão k nem peso suficiente tem para dar sangue... Cagari Cagaró !!!

Panda disse...

maria, foi por causa dessa polémica toda que escrevi este texto, se bem que este assunto paira muito na minha cabeça.

Vanda, obrigada. Eu também sou magra e sempre fui apelidada de nomes menos agradáveis. Costumavam perguntar-me se os meus pais me davam comida, inclusive. As pessoas chegam a um extremo e é difícil pararem.

disse...

já tive dias em que mudei de grupos de amigos e senti-me confusa. num levei com a conversa do ser magra, noutro com a conversa do ser gorda. vai por mim, sou 'normalinha', tenho o mesmo peso há anos e silhueta ampulheta, haja pachorra.

Panda disse...

Honestamente, o que eu não percebo é a necessidade que as pessoas têm de comentar. Comentar, comentar, comentar. Enjoa. Pronto, é gorda, é magra, é baixa, deixa ser. E então? Se formos todos iguais somos menos mal amados, é? Opá, haja paciência, mas não se aguenta esta gente. Necessidade de escarafunchar tudo como as velhas das aldeias.